De acordo com levantamento do CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) cerca de 80% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos possuem acesso à internet e pelo menos 21% deles já deixaram de comer ou dormir para ficar online. Pensando em despertar o interesse das crianças para práticas que resgatam a valorização da escrita, uma escola de Curitiba propôs um desafio para seus alunos: trocar cartas.
“Como estamos trabalhando com a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que propõe que seja despertado no aluno um sujeito investigador, engajado e formador de opinião, que valoriza e respeita as diferentes manifestações culturais e artísticas; a ideia da troca de cartas encaixou perfeitamente nesta proposta”, explica Carolina Paschoal, diretora da Escola Pedro Apóstolo.
Desde maio, os alunos do 5º ano da Escola Pedro Apóstolo vivenciam a experiência de trocar cartas com alunos da Escola Municipal Wenceslau Neto, de Itajubá, interior de Minas Gerais. As professoras Selma Maria Mildemberger e Silvana Perrone, que supervisionaram a atividade, contam que o engajamento foi maior do que o esperado.
“Inicialmente, a proposta era apenas realizar a troca de cartões postais para trabalhar os conteúdos de tipos textuais e regiões brasileiras. No entanto, as crianças engajadas com a proposta, propuseram que mais informações fossem trocadas e foi aí que as cartas começaram a ser escritas”, explica Selma.
Nas trocas de cartas, as crianças abordaram diversos assuntos como cultura, gastronomia e histórias da região onde vivem. Uma das curiosidades foi quando os alunos curitibanos descobriram o significado e surgimento da expressão “uai”, tipicamente mineira. “A gente descobriu com as cartas que essa expressão surgiu lá atrás quando homens se reuniam secretamente e tinham que dar três toques na porta e falar ‘uai’ como um código secreto. Depois de anos e muitos acontecimentos o ‘uai’ continua sendo uma expressão utilizada em todo o Estado”, resume Matheus Cardoso, de 10 anos, participante do projeto na Escola Pedro Apóstolo.
E a troca de experiências entre os alunos acabou sendo tão natural e profunda que assuntos como o rompimento da Barragem na cidade de Brumadinho também foram abordados. Os mineirinhos falaram sobre como a tragédia, que completou seis meses recentemente, afetou o dia a dia de todo o Estado. Houve até troca de iguarias. A turma mineira presenteou a curitibana com uma massa de pão de queijo, alimento típico mineiro, e foram retribuídos com uma cuia de chimarrão, típica da região sul.
Ao todo foram aproximadamente 60 cartas trocadas. Agora o projeto entra em uma nova fase: a turma da Escola Pedro Apóstolo tem o desafio de transformar um conto em quadrinhos para enviar aos colegas mineiros. Esse conto foi uma história real sobre um “queijo perdido” e promete arrancar boas risadas. “A atividade de troca de cartas envolveu tanto os alunos que as ideias não param de surgir. A cada hora eles propõe coisas novas para enviarem e também aguardam as cartas com muita ansiedade. Estamos muito felizes com o resultado do projeto”, conclui Carolina Paschoal.